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Como não empreender

Quando deixei o emprego para empreender… e deu bem errado

Era final de 2014. Já havia um tempo que eu estava confortável em um bom emprego. Apesar de ter adquirido algumas dívidas nos últimos meses e o salário não ser lá essas coisas, eu conseguia dar conta das necessidades do mês. Vivendo mês a mês.

Foi então que surgiu uma oportunidade de mudar de empresa. Era um trabalho “melhor”, para ganhar mais e em uma multinacional.

A saída da antiga empresa me rendeu uma boa grana. Com ela resolvi boa parte dos problemas financeiros que havia adquirido e ainda consegui guardar um pouco na poupança.

Era a famosa época das vacas gordas. Conseguia dar presentes caros e jantar em lugares chiques.

Eu tinha um salário bom e dinheiro guardado. O sonho da classe média.

Até aí tudo ótimo, não é? Na verdade não.

O novo trabalho era uma tortura para mim. Não tinha nada do que eu gostava na minha profissão. Além disso, era cheio de burocracias burras e desnecessárias que só faziam cair, e muito, a produtividade. O ambiente parecia tirado de um galpão de operações da CIA, ou qualquer agência norte-americana, daqueles filmes dos anos oitenta.

Foram apenas quatro meses até que eu não aguentasse mais. Pedi demissão.

Com dinheiro na poupança e sem as dívidas era a hora de fazer algo por mim.

Eu poderia ter conhecido um lugar diferente, visitado a família, comprado algo legal, ou qualquer outra coisa de consumo rápido. Depois era só voltar a procurar um emprego e seguir a vida. Mas eu decidi fazer algo diferente.

Já fazia um bom tempo que eu estava namorando a ideia de empreender. Ter meu próprio negócio, minha própria empresa.

Há algum tempo eu acompanhava os vídeos dos “gurus” do empreendedorismo da época e estava louco para experimentar aquela sensação de liberdade que eles tanto falavam e passavam a seus seguidores.

Antes mesmo de sair da empresa que citei lá no começo deste texto, eu já tinha começado a desenvolver um software on-line para pequenos negócios. Esse seria meu primeiro produto.

Tinha certeza de que era uma ótima ideia e que poderia ser vendido como SaaS (Software as a Service) por uma mensalidade pequena, que os micro e pequenos empresários pudessem pagar. Bastaria eu manter as melhorias contínuas no sistema e todo o pequeno negócio ia querer usar minha ferramenta.

Como uma criança inocente mostrando seu rabisco em giz de cera para a sua mãe, eu mostrei meu produto para pessoas próximas e só recebi feedbacks positivos. “A ideia é boa”, “vai dar certo”.

Ok. Eu tinha um produto e uma grana guardada. Era hora de começar a empreender.

Então corri atrás dos primeiros usuários para testar a ferramenta de forma gratuita. Até consegui um ou outro. Eles se cadastraram no meu software e eu comecei a ficar empolgado.

Nesse mesmo período eu encontrei pela primeira vez os meus concorrentes.

Sim, eu não conhecia meus concorrentes ainda. Errei feio, errei rude.

Comecei a ficar desanimado com a ideia e meu primeiro produto já estava caindo no esquecimento. Tanto dos seus primeiros usuários, que logaram apenas uma vez no sistema e nunca mais voltaram, como de mim mesmo, que não via mais esperança de que meu MVP pudesse ter algum futuro.

Meu produto não tinha nenhum diferencial atrativo para os clientes. Ele não fazia nada que os outros já não fizessem. E o que fazia de igual, fazia pior.

Nesse meio tempo o dinheiro começou a ficar escasso. A poupança estava secando…

Nesse momento resolvi mudar a “empresa” para uma prestadora de serviços. Era hora de tentar vender minhas habilidades de desenvolvimento de sites e sistemas personalizados para os micro e pequenos negócios.

Meu novo plano parecia perfeito, vendia um site ou um sistema por um valor que o pequeno empreendedor pudesse pagar e cobrava uma mensalidade, também barata, para manter o serviço hospedado e funcionando.

Na verdade eu era um freelancer, mas a ideia ser um empreendedor fazia tudo parecer mais importante do que realmente era.

Apenas uma questão de aparência.

Eu continuava indo nas reuniões e eventos com meu terno surrado e sapato velho, para me sentir um empresário. Talvez se tivesse apenas admitido que era um freelancer, as coisas teriam sido muito mais fáceis.

Graças ao network que vinha construindo há um tempo, consegui fazer alguns contatos e cheguei a fazer um sistema e alguns sites.

Depois de um tempo focado em vender essa nova ideia “genial” de serviços por mensalidade, as coisas não chegaram nem perto de melhorar na minha vida financeira. As dívidas continuavam aumentando.

A matemática era muito simples: eu não sabia vender e muito menos precificar o meu trabalho do jeito certo.

Eu vendia um serviço que valia muito, mas cobrava pouco pelo mesmo, com medo de que os clientes não quisessem me contratar.

Para piorar, alguns clientes começaram a dar calote. Não importa se você tem um contrato com algumas pessoas, elas simplesmente não vão pagá-lo.

Nessa época eu comecei a ficar depressivo.

Eu passava todos os dias em casa, com pouco trabalho a fazer. Minha esperança de melhorar a vida estava se esvaindo cada vez mais. Eu só queria deitar na minha cama a tarde toda e dormir para esquecer o buraco em que eu tinha me colocado.

Então… a fonte secou de vez. Minha poupança estava vazia. Zerada.

Para comprar comida e pagar as contas de água e luz e o aluguel, comecei a usar todo o crédito que podia no banco. Até o dia em que essa fonte também secou. O banco agora queria que eu começasse a devolver tudo. Com juros, é claro… muitos juros.

Finalmente, muito mais tarde do que deveria, eu me dei conta de que a situação tinha atingido um nível que eu jamais imaginei que pudesse atingir.

“Eu falhei. Cheguei ao fundo do poço.”

Esse era o único pensamento que passava pela minha cabeça. A derrota estava completa.

Foi então que, com ajuda e conselhos de amigos, resolvi tomar uma atitude. Assumir as falhas cometidas, perceber que não tinha mais condições de continuar naquela jornada e procurar um trabalho com salário fixo. Era a solução mais rápida que poderia me ajudar a tapar os buracos financeiros aos quais eu havia me enfiado.

Era hora de encerrar a minha primeira jornada de empreendedor. Talvez não para sempre, mas até uma nova oportunidade. E quando ela vier, estarei mais pronto e com muito mais experiência.

Foram muitos os erros cometidos em menos de um ano após começar a empreender. Uma sequência de falhas. Uma mistura de despreparo com falta de planejamento e excesso de confiança.

Apesar de ter passado por uma fase terrível da minha vida, hoje eu percebo o quanto tudo o que aconteceu foi importante para mim. O quanto consegui aprender com esses erros e, principalmente, o quanto isso foi importante para que eu me conhecesse melhor como pessoa e como profissional.

“É bom celebrar o sucesso, mas é mais importante prestar atenção nas lições do fracasso.”

Onde foi que eu errei? Para tentar resumir toda essa história em algo produtivo, resolvi listar quais foram os erros que pude identificar nessa curta jornada de empreendedor.

Então, para encerrar, vamos para o jogo dos sete erros.

1. Excesso de autoconfiança, despreparo e falta de planejamento. Um desconhecimento total do mercado e dos concorrentes que atuavam nele.

2. Se apaixonar por uma ideia sem pensar no que ela traria de diferente para suprir a “dor” do cliente. A paixão cega.

3. Acreditar que poderia ter um negócio que atingiria o breakeven point em apenas alguns meses. Onde as contas da empresa (e minhas) seriam pagas pelo próprio faturamento da empresa.

4. Não fazer uma conta simples: por quanto tempo consigo sobreviver com esse dinheiro que tenho guardado?

5. Sentir-se derrotado, desanimar e não persistir logo nos primeiros nãos. Uma falha grave para qualquer um que está começando qualquer coisa.

6. Ser orgulhoso demais para entender que falhou. Se você não admite o erro, como pode tomar uma atitude para consertá-lo?

7. Seguir gurus da internet. Alguns podem ajudar muito, mas a maioria tem conteúdo muito superficial e de autoajuda, algo que não vai auxiliar em nada quando você estiver precisando de conselhos mais “práticos”.

Esses itens são apenas alguns dos centenas de aprendizados que tive durante esse curto espaço de tempo. Mas resumem bem o que não fazer quando se quer empreender.

Apesar de aprendermos muito mais com nossos próprios erros do que com os erros dos outros, acredito que essa minha experiência possa servir para que outras pessoas entendam um pouco mais sobre essa perigosa aventura chamada empreendedorismo.

Publicado originalmente no Medium.

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Brevidade da vida

Uma verdade que nem sempre aceitamos

Um tempo atrás eu tive um sonho que virou pesadelo quando, do nada, uma pessoa com quem eu interagia sofreu um acidente e morreu.

Acordei em choque. E passei boa parte daquele dia com essa sensação ruim.

Depois de um tempo mastigando o sonho/pesadelo eu entendi que o choque era causado pelo entendimento de algo que poucos queremos aceitar: a brevidade da vida.

Ontem a noite, ao chegar em casa, liguei a televisão e estava passando o documentário Senna, de Asif Kapadia. Assistindo, lembrei da primeira vez na vida que tive essa sensação. Eu tinha dez anos quando Senna sofreu seu acidente fatal e me lembro de ter ficado em choque.

Hoje acordei com a notícia da tragédia que aconteceu com o time da Chapecoense.

Um time do meu estado. Um time do meu esporte favorito. Um time que vi jogando o Campeonato Catarinense quando era novo e agora estava à caminho de sua primeira final internacional.

Novamente a brevidade da vida bate à minha porta. Fiquei mais uma vez em choque.

Não importa quantas vezes essa verdade for jogada na minha cara, vou continuar em choque.

Seja por atletas no auge de uma carreira ou por um conhecido da minha idade que acabou de ter um filho. Vou ficar em choque com a morte inesperada, sem aviso.

Não importa o quanto achamos que estamos no controle, o quanto necessitamos da sensação de que temos as rédeas da nossa vida. A qualquer momento ela pode se acabar. Sem aviso prévio.

Uma tragédia. Algo difícil de acreditar e de aceitar, mas algo possível de acontecer com qualquer um.

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Aprendendo com 2015

Que ano! 2015 foi o ano mais produtivo da minha vida inteira e também o mais difícil de todos.

Comecei o ano trabalhando numa empresa gigante, de renome, com bom salário, dinheiro guardado, mas extremamente infeliz. Tomei a drástica decisão largar tudo e empreender de alguma forma em fevereiro. Sem um produto, sem experiência, sem conhecimento suficiente… apenas um salto de fé. Um salto no escuro.

O dinheiro acabou antes do esperado. Continuei insistindo, achando que o que sempre me faltara era a persistência e dessa vez eu ia conseguir.

Persistência é uma qualidade. Teimosia, não

Por sorte, eu tenho pessoas na minha vida que me ajudam a ver as coisas de outro ponto de vista. Quando cheguei no fundo do poço, percebi que estava sendo teimoso e burro, não persistente. Foi então que uma batalha para me reerguer começou.

Desenvolvedor por mais de 12 anos, sempre trabalhei com PHP, mas eu queria trabalhar com Python. Havia passado o ano todo estudando e desenvolvendo nesta linguagem de programação, mas nas atuais circunstâncias eu estava aceitando qualquer coisa.

Pela primeira vez na vida, demorei meses para conseguir algum trabalho. Consegui alguma coisa, mas ainda não era o que eu buscava. Eu jamais achei que fosse encontrar o que queria trabalhando em uma empresa.

Foi então que dois dias antes da Python Brasil 2015 eu recebi uma ligação. No telefone uma pessoa com quem eu havia feito uma entrevista meses atrás, mas que não tinha me escolhido para vaga. Ele dizia que desta vez tinha a vaga ideal para meu perfil. Marcamos a conversa para um dia depois do evento. No outro lado da linha estava o CTO da Tikal, responsável por produtos como o LegalNote e o Diligeiro.

Era novembro. Os meses que passaram desde fevereiro pareciam décadas. Lá estava eu, finalmente trabalhando com Python e numa startup. Ainda era apenas uma salinha dentro de outro escritório. Me apaixonei pela ideia, pelo ambiente, pela oportunidade de começar um projeto novo, vê-lo crescer e se desenvolver.

Mas o que eu não sabia é que ali eu iria encontrar exatamente o que eu estava procurando. Pela primeira vez na minha vida eu me senti livre e ao mesmo tempo fazendo parte de algo. Descobri que essa combinação é possível. E descobri que essa combinação é exatamente o que eu procurava.

Esse ano foi o ano mais difícil da minha vida, mas também foi o ano em que mais aprendi. Aprendi sobre mim, aprendi sobre Python, aprendi sobre trabalho, aprendi sobre a paciência, sobre a ganância, sobre o que é ter muito e o que é ter pouco, aprendi que ser é mais importante que ter. Mas acima de tudo, aprendi que as dificuldades são degraus de uma escada que leva você para a maturidade, para o autoconhecimento e para a satisfação pessoal.

Obrigado, 2015, por me ensinar tanto.

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Trabalhar para ser feliz?

Assisti alguns vídeos do TED talks no Netflix que me trouxeram insights interessantes os quais eu gostaria de compartilhar. Este é o último dos três textos sobre o assunto, publicados originalmente na minha página no Medium.

Essa palestra do psicólogo Shawn Achor foi muito boa. Ele fala sobre uma visão padrão da sociedade sobre o sucesso: Devemos trabalhar duro para sermos felizes.

Segundo ele, essa visão deve ser mudada. Está mais do que provado que um colaborador feliz tem uma produtividade muito maior do que um que esteja sobre pressão, estresse e se sentindo infeliz. Então a ideia é simples…

Devemos ser felizes para trabalhar melhor.

Ele se formou em Harvard e passou os próximos oito anos sendo psicólogo dos alunos daquela universidade e percebeu que, em vez de se sentirem privilegiados por conseguirem entrar numa universidade tão difícil, nas primeiras semanas os alunos já estavam estressados e preocupados com as notas e os trabalhos acadêmicos.

Se você entra em Harvard, agora tem que ter boas notas. Se consegue concluir o curso, agora precisa de um emprego melhor. Se você atinge a meta de vendas, a meta será alterada. E assim por diante, num ciclo sem fim.

Se definirmos o sucesso, e consequentemente, a felicidade em cima de objetivos que devemos atingir, nunca chegaremos lá.Sempre estaremos esperando o momento de felicidade, mas este momento jamais chegará.

Essa palestra merece ser vista.

Assista no site TED.com

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A mente afeta o corpo… e vice-versa

Assisti alguns vídeos do TED talks no Netflix que me trouxeram insights interessantes os quais eu gostaria de compartilhar. Este é o segundo dos três textos sobre o assunto, publicados originalmente na minha página no Medium.

Amy Cuddy, uma psicóloga social e professora de MBA trouxe uma palestra muito interessante sobre linguagem não-verbal.

Sabe-se que a linguagem corporal é afetada pela nossa mente. Se você está se sentindo poderoso, seu corpo vai se portar mostrando esse sentimento, abrindo os braços, inflando o peito e endireitando os ombros, por exemplo. Se você está se sentindo submisso, ele vai se comportar de outro jeito, de braços cruzados, ombros caídos, etc.

Agora a pesquisa que a palestrante trouxe mostra que a recíproca é verdadeira. Se posicionarmos nosso corpo em posição de poder, nossa mente vai reagir a isso.Eles basicamente mediram os hormônios testosterona e cortisol, sendo que o primeiro é relacionado a sensação de poder e o segundo à reação a momentos de stress. Quando nos sentimos poderosos os níveis de testosterona se elevam e os de cortisol caem.

Pediram para que algumas pessoas assumissem posições tanto de poder como de submissão (sem que as mesmas tivessem conhecimento do que significavam cada uma) por dois minutos e mediram seus hormônios antes e depois das poses.

O resultado foi que os níveis de testosterona e cortisol refletiram exatamente o que as poses estavam demonstrando. E isso quer dizer simplesmente que você pode “fingir até se tornar” (fake it until you make it, ou a versão que a Amy Cuddy prefere: fake it until you became it), ou seja, você pode assumir uma posição de poder com o seu corpo e então, depois de um tempo, vai se sentir mais confiante e mais poderoso.

Essa é uma dica que a palestrante deu para quem for fazer uma entrevista de emprego: “Vá ao banheiro minutos antes da entrevista e faça a pose clássica da mulher-maravilha por dois minutos”. Pode não parecer, mas foi provado cientificamente que isso vai lhe trazer uma sensação de confiança e empoderamento.

Assista no site TED.com

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Eu e a programação

Quando eu tinha por volta de 16 anos, escrevi minha primeira linha de código. Foi na linguagem de programação PASCAL e fazia parte da aula de Lógica de Programação do curso técnico de informática que eu havia acabado de ingressar, por falta de opção, de certa forma, na Escola Técnica Federal de Santa Catarina.

Vou contar um pouco sobre como foi a experiência que me levou à esse momento. Quando passei na prova para a ETFSC, a ideia era estudar o ensino médio sem precisar pagar mensalidade, afinal a situação financeira da família já era precária há alguns anos e, sendo o mais novo de quatro irmãos, as opções eram muito poucas. Conseguir vaga no ensino médio em escolas públicas naquele ano estava complicado, então dependia apenas de mim passar na prova.

Depois disso, a ideia de sair do ensino médio já com alguma formação e podendo estagiar para ter alguma renda e ajudar em casa também me atraiu bastante. O primeiro ano (ou as duas primeiras fases) na ETFSC eram de ensino médio comum, mas após a terceira você ingressava no curso técnico do seu interesse, que poderia lhe propiciar uma oportunidade de estágio remunerado.

O problema é que entrei num ano divisor de águas, a ETFSC estava virando CEFET/SC e o ensino técnico seria separado do médio. Entretanto, na exata fase em que entrei, a direção não sabia o que fazer. Eram obrigados a nos prover ensino médio completo dentro do período padrão de três anos (não mais apenas o primeiro ano), mas também tínhamos direito adquirido de cursar o técnico a partir da terceira fase.

Então, uma escolha nos foi oferecida: começar o técnico na terceira fase (início do segundo ano) de forma concomitante com o ensino médio (períodos opostos) ou aguardar o término dos três anos (ou seis fases) do médio para somente depois iniciar o técnico.

Imagine que um adolescente de 15 anos precisa fazer essa escolha. Eu queria ganhar tempo, então escolhi fazer concomitância. O problema é que teria que escolher rapidamente em qual curso iria ingressar para cursar ao mesmo tempo que o ensino médio.

Segurança do trabalho, mecânica, eletrônica, eletrotécnica, edificações ou informática?

Com uns 13 anos eu aprendi um pouco de HTML com uma fotocópia de um livrinho básico que achei em casa, provavelmente de algum curso que meu irmão mais velho tinha feito e até que gostei de brincar com páginas da internet. Então pensei, vou entrar para informática!

Após três meses de aula de “Empreendedorismo”, iniciamos as aulas técnicas do curso de informática. Então chego novamente ao PASCAL da classe de Lógica de Programação.

Lembro de como foi a sensação de escrever comandos simples em texto e ver o computador executá-los. Para uma pessoa que sempre gostou de ver resultados rápidos como eu, aquilo ali era uma maravilha. Escreva, execute e as coisas acontecem. Naquele momento eu descobri o poder da programação… e estamos falando de um algoritmo extramente simples.

Passei a adorar os exercícios de Lógica de Programação, só achava insuportável ter que escrevê-los no papel durante as provas. Queria ver o resultado, e no papel nada acontecia. Depois disso ainda tive aulas de hardware e de redes. Não gostava de nada. Banco de dados eu até engolia, mas o que eu queria era o imediatismo de escrever e ter o resultado ali na hora.

Sendo um adolescente que queria apenas ficar com notas altas o suficiente para passar, eu matava muita aula para jogar futebol na quadra da escola. Tentando, sem sucesso, me justificar: imagine quão insuportável era ter que estudar de manhã e de tarde para um rapaz de 16 anos. Eu queria era me divertir!

Nessas “saídas” eu acabei perdendo conteúdo importante e, por sorte, no trabalho final do curso eu tinha dois grandes amigos como membros do grupo e me ajudaram a entender o sistema que entregamos para poder apresentar melhor. Infelizmente, não tive tanta participação na criação do código do sistema, que, nesse caso, foi desenvolvido com PHP/MySQL.

Antes de terminar o curso, eu já estava estagiando para ganhar aquele dinheirinho e ajudar minha família. Na época, 120 reais por mês. Estudava de manhã e à tarde e estagiava à noite, o que, para a vitalidade de um adolescente, não era nada demais.

Meu maior hobby, desde muito novo, era fazer histórias em quadrinhos. E durante o início do curso, um amigo meu se ofereceu para publicar minhas hqs no seu site. Eu amei aquilo, estava tendo resultado com meus quadrinhos pela primeira vez.

Ao terminar o curso, eu fiquei com o código fonte da aplicação PHP que havíamos apresentado. Minha vontade de publicar minhas hqs era tão grande, que aprendi a programar de verdade em PHP apenas para criar um site e postar minhas histórias por lá. Eu o nomeei Macro Vision Studio.

Mais uma vez, eu tinha motivo para programar: ver o resultado. Eu publicava “webcomics” antes mesmo de   termo. Cheguei a ter um pequeno público de fãs e adorava responder aos e-mails deles.

Em tudo isso, a programação era apenas um meio de atingir um resultado rápido. Perceba, nunca foi o fim, mas o meio. Hoje, olhando para trás com uma visão mais madura, eu percebo o quanto isso foi um desperdício de oportunidade. Mas convenhamos, para um adolescente no final dos anos 90 não podemos exigir tanto, não é?

Durante os próximo anos, o desenvolvimento web continuou sendo um meio para mim. Sempre quis ter outras atividades que me gerassem renda, atividades que eu considerava como “trabalhar com o que gosto”. Tentei ilustração, arte marcial, música, design… em todos eles, de alguma forma, a programação web estava lá. Era um sistema para gerenciar alunos, um site para publicar quadrinhos, etc.

Depois de muito tempo percebi que eu tinha ficado melhor em programar e continuava sempre ocupando vagas em empresas nessa área, entretanto, sempre querendo sair para “trabalhar com o que gosto”.

Eu insisti muito em não trabalhar com programação web e tecnologia, mas elas nunca desistiram de mim. Estiveram sempre presentes e foram pacientes, aguardando o momento em que eu iria perceber que fomos feitos um para o outro.

Desde muito cedo eu já usava a internet para guardar arquivos e não pendrives ou CDs. Eu já publicava meu conteúdo na web em vez de em fanzines, como os outros artistas independentes faziam. Eu sempre me inscrevi em todos os aplicativos web que apareciam, porque adorava ver como funcionavam.

Ela estava lá o tempo todo e eu já estava “trabalhando com o que gosto” há muito tempo e nem sequer percebia, porque insistia que devia procurar um trabalho menos convencional. Perceber isso faz minha vida começar a andar para frente.

Nos últimos tempos, minha paixão tem sido o empreendedorismo e já faz alguns anos que tenho o sonho de ter minha própria empresa. Mas, assim como com o trabalho, queria construí-la a partir de algo que eu gostasse muito. Me conhecer o suficiente para perceber o quanto eu gosto de tecnologia e desenvolvimento web me abriu ainda mais portas para realizar esse sonho. Não existe casamento melhor nos dias de hoje do que empreendedorismo e tecnologia!

Escrevi essa pequena história apenas para mostrar o quão importante é se conhecer e quero terminar com uma frase de um livro de empreendedorismo que significou muito para mim nesse processo de autoconhecimento profissional:

Errar muitas vezes, tentando acertar, nem sempre significa sinal de persistência. Na verdade, pode ser um aviso gritante de que você precisa mudar de estratégia, com rapidez.

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Teimosia

“Para vencer é preciso persistir, nunca desista do seu sonho e corra atrás até atingi-lo!”

Quem nunca ouviu esse tipo de frase de autoajuda/motivação? Eu concordo com ela, qualquer coisa é possível para quem não desiste e tem força de vontade pra atingir seus objetivos. Mas existe uma linha tênue entre ser persistente ou simplesmente teimoso.

Depois de muitos anos você percebe que a sua persistência não está te levando a lugar algum, você continua correndo atrás, mas não vê seus objetivos mais próximos. Aí entra a questão: será mesmo que você não está apenas sendo teimoso?

Não quero dizer que você não deve seguir persistindo no seu sonho, mas sim que deve analisar se o caminho que você tomou para torná-lo realidade é realmente a melhor opção. É preciso persistir sim, mas também é preciso ser inteligente e humilde o suficiente para perceber quando o caminho, ou até seu objetivo, precisa ser repensado.

Eu acredito que existem pelo menos oito maneiras de se percorrer um caminho até um destino específico, então se você experimentou apenas um deles e está percebendo que ele não está te fazendo chegar mais próximo do seu destino, por que não experimentar outras opções?

Para e pense: quais são minhas outras opções para atingir meu objetivo? Ou até: qual é verdadeiramente meu objetivo?

Não existe vergonha em dar um passo para trás para reorganizar a vida e poder dar novos passos em direção à sua prosperidade. Somente o orgulho irá lhe impedir de tomar essa atitude.

O orgulho é o complemento da ignorância. (Bernard Fontenelle)

Persista sempre, mas não seja orgulhoso e teimoso. Talvez sua vida esteja lhe dizendo que está na hora de se conhecer melhor e entender o que realmente quer para si mesmo. Parar para reavaliar o que está fazendo nunca será perda de tempo, será sempre um exercício de autoconhecimento.

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Aproveitando o caminho

Em um bate-papo que tive um tempo atrás alguém entrou no assunto “deve-se apreciar a viagem e não só o destino“. Basicamente, isso quer dizer que eu devo gostar tanto das inacabáveis horas no carro na Régis Bittencourt quanto das praias de Florianópolis… esse sempre foi o meu ponto de vista sobre o assunto.

Ultimamente eu andei revendo meu conceito. Não necessariamente sobre a Régis Bittencourt, mas sobre aproveitar melhor a vida, ou seja, viver o presente com mais intensidade do que esperar pelo futuro.

Mas como podemos apreciar a viagem se o que mais queremos é que inventem logo uma máquina de teletransporte?

Vivemos em um mundo cada vez mais imediatista, buscando resultados cada vez mais rápidos e eficientes, e, de preferência, sem que precisemos sair da frente do computador. As pessoas não querem esperar a planta crescer, por exemplo, regando, cultivando, dando atenção, querem comprá-la pronta e de plástico, para não ter que “perder tempo” cuidando.

Acreditam que vão votar hoje e amanhã o candidato vai resolver o problema da paz mundial. Querem ter um bom emprego logo, mas não querem começar de baixo. Querem uma promoção no trabalho logo, mesmo que a dedicação seja mediana e, se não vier, trocam de emprego. Compram um gadget novo logo que ele é lançado, mesmo sabendo que o antigo ainda poderia dar conta do recado por mais alguns anos.

Esse imediatismo está presente em nossa vida e é ele que nos faz querer pular o caminho e chegar logo no destino. É como se o tempo estivesse mais curto para todos e qualquer caminho percorrido é uma perda de tempo. Isso gera muita ansiedade e stress nas pessoas.

Para mim, aceitar que existem sim belezas no caminho não é fácil, porque faço parte desta geração para a qual ontem já é passado e o hoje é uma busca pelo amanhã. Só que o amanhã nunca chega, porque a vida acontece hoje.

“O passado é história, o futuro é mistério, o agora é uma dádiva e por isso se chama presente” (do filme Kung Fu Panda)

Estou tentando absorver essa filosofia para, consequentemente, diminuir a ansiedade que gero pelo que ainda nem aconteceu. E aproveitar o caminho que estou percorrendo para atingir isso é a primeira lição.