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Machine Learning está arruinando as timelines

Machine Learning é incrível.

Hoje em dia temos máquinas aprendendo o tempo todo e os dados se tornaram o novo petróleo. Quem tem quantidades gigantescas de dados de usuários tem grande valor de mercado. Isso acontece porque quanto maior a quantidade de dados mais as máquinas podem aprender sobre qualquer coisa. O que você gosta, o que você quer comprar, quais são as suas inclinações políticas e sociais, por onde você costuma andar, etc.

As possibilidades que podem ser criadas a partir da análise dos dados de uso de um aplicativo são incríveis. A ideia geral é que isso ajude na personalização de qualquer serviço que você usa.

Dois bons exemplos do uso de Machine Learning em redes sociais para mim são a página inicial do YouTube e a parte de Explore do Instagram. Ambos se ajustam muito bem ao tipo de conteúdo que eu me interesso nesses serviços.

Algo que poderia incomodar algumas pessoas sobre o uso de Machine Learning atualmente é a questão da privacidade, que é um assunto muito discutido nesse conceito de uso dos dados alheios.

Mas o que me chamou atenção e me incomodou mais ultimamente sobre o assunto é uma coisa que pode parecer muito mais boba e simples. As timelines das redes sociais.

A timeline tem esse nome porque deveria ser uma linha do tempo. É comum gostarmos de saber o que está acontecendo de mais atual com nossos contatos sociais e também aqueles influenciadores que seguimos.

Entretanto, com o uso do machine learning na maioria das timelines de todas as redes sociais, não temos mais uma linha do tempo. Temos uma lista de conteúdos que a máquina resolveu que é o mais interessante para o seu perfil. Perfil esse criado através da análise dos seus dados de uso da rede.

Eu tenho usado pouco as redes sociais ultimamente, meu acesso não passa de um por dia durante os dias úteis para algumas redes e um por semana para outros, e essa descrição que vou dar sobre a experiência que tenho pode não condizer com a experiência de alguém que usa muito as redes, portanto se esse for o seu caso enquanto lê, por favor, deixe um comentário me falando como funciona para você.

Toda vez que acesso uma rede acontece a mesma coisa: recebo conteúdos que foram postados há um bom tempo atrás misturados com conteúdos recentes. Cheguei a receber alguns com mais de um mês de idade na minha timeline.

Como eu disse antes, pode parecer bobo, mas eu não tenho interesse em receber coisas tão antigas para os padrões da internet. Isso é um pequeno problema que venho enfrentando, mas existe um pior. Pessoas que simplesmente não dão as caras mais no meu feed.

Você pode pensar “Ah, mas elas nem devem postar mais”. Foi exatamente o que pensei sobre essas pessoas até acessar seus perfis nas redes. Lá estavam conteúdos que eu gostaria de ter visto, provavelmente teria interagido, mas que nunca tive a chance.

A máquina decidiu que eu não deveria me interessar por um conteúdo de uma pessoa talvez porque ela poste de forma mais esporádica. Mas a máquina errou.

Eu não quero que a máquina escolha quem deve aparecer ou não no feed do meu aplicativo. Eu quero ter a opção simples de acessar as configurações da minha rede e escolher que a máquina não monte o minha timeline e deixe de escolher qual conteúdo eu devo ou não devo interagir.

Uma opção simples de configuração, mas que pode afetar todo um modelo de negócio de uma empresa que se baseia em análise de dados de uso para vender certo serviço de publicidade.

Como isso afeta o modelo de negócios das redes sociais? Vamos ver um exemplo.

Uma amiga minha vende produtos pela internet e o Instagram costumava ser sua maior fonte de clientes. Bem, ela teve uma queda gigantesca nas vendas assim que a nova timeline com Machine Learning entrou no ar neste aplicativo. Graças à isso agora precisa comprar posts patrocinados da rede social se quiser continuar conseguindo leads pelo app de fotos.

Você pode me perguntar se eu acho errado que se venda um serviço baseado no acesso dos meus dados. Bem, eu aceitei aquele termo de uso e sei que nada vem de graça nesse mundo. O Facebook não gasta milhões de dólares em servidores e funcionários para que você possa curtir aquela foto da sua tia. Ele investe para obter lucro.

É por isso que resolvi fazer uma mudança na forma como consumo conteúdo e voltar para algo que se usava muito na internet do passado. Escolher blogs e sites e seguir suas postagens através de um agregador de conteúdo, o Feedly. Ele também deve aproveitar meus dados para alguma coisa, mas pelo menos eu escolho de onde meus conteúdos vem, não é mesmo.

As redes sociais não são a internet. A internet é descentralizada por natureza. É por isso que apesar de publicar com certa frequência na minha conta do Medium eu também costumo postar sempre aqui no meu próprio blog. Fica aqui o link para um texto do Luciano Ramalho sobre o porque ter seu próprio site na internet.

Aguardo sua opinião nos comentários.

Até a próxima!

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Tecnologia

Você não precisa de inteligência artificial para criar um chatbot

Nem Machine Learning e Processamento de Linguagem Natural

Todo mundo que trabalha com desenvolvimento de software sabe que, cada vez mais, existem as “expressões do momento” no mercado. É por isso que eu adoro o texto Hype Driven Development

Uma das mais faladas “expressões do momento” é a inteligência artificial. Ela está em todo lugar, em todas as matérias nas mídias e diversos artigos acadêmicos e começou a ficar extremamente popular no último ano.

Cuidado! Inteligência artificial vai roubar seu emprego!

Depois que o Facebook resolveu liberar os chatbots para sua plataforma de mensagens, chatbot também virou uma expressão do momento. Eu mesmo gostava do assunto antes, mas a partir do ano passado comecei a estudar e aprender ainda mais sobre esse tipo de software.

A partir daí todo lugar onde se vê a palavra chatbot também se vê inteligência artificial. É uma questão bem óbvia, afinal para um robô falar com um humano, ele precisa ter o mínimo de inteligência…

Mas será mesmo que preciso saber criar inteligência artificial para criar um chatbot?

Citando um ótimo texto do Caio Calado que explica o que são chatbots:

Chatbots são serviços baseados em regras e (às vezes) inteligência artificial, onde você pode conversar e interagir através de aplicações/aplicativos de mensagens.

A parte importante dessa citação são as palavras entre parênteses: às vezes.

Como ele explica no texto, existem dois tipos de chatbots. Os baseados em regras e os baseados em inteligência artificial. A maioria dos bots que encontramos por aí é puramente baseado em regras e eles não são ruins por causa disso.

As plataformas de mensagens oferecem diversas maneiras para que o usuário posso interagir com o bot. São botões, listas com links, webviews que abrem uma página externa, etc. Utilizando essas interações fica muito fácil saber o que o usuário quer fazer, sem necessidade de inteligência artificial.

Você não precisa fazer com que o bot tenha um entendimento profundo da lingua portuguesa e entenda cada detalhe de tudo que o usuário está falando para que ele cumpra o que propõe.

Um bot tem que ter uma naturalidade na interação, mas isso depende muito mais do design da conversação do que de inteligência artificial.

Um chatbot é um software. A tecnologia que você vai usar no seu desenvolvimento precisa ser compatível com as necessidades das funcionalidades dele.

Machine Learning, Processamento de Linguagem Natural (NLP) e Inteligência Artificial (AI) são importantes para os mais diversos tipos de aplicações, mas para aquelas que realmente necessitam dessas tecnologias.

Se o bot precisa aprender com dados e interações para melhor atender o usuário e cumprir o objetivo proposto, então Machine Learning é necessário. Se ele precisa classificar textos que o usuário venha a enviar, você vai precisar de NLP… e assim por diante.

Agora se ele fala informações sobre o clima, não precisa ser “inteligente” para bater papo com o usuário ou aprender com as interações. Afinal o objetivo dele é previsão do tempo! Ele só precisa saber onde o usuário está ou de onde ele quer saber a previsão.

Outro grande problema desse hype todo é que essas expressões técnicas assustam quem não conhece e podem acabar afastando pessoas interessadas na construção de chatbots por acharem que é um impeditivo não saber essas tecnologias.

O hype é algo que sempre existirá, mas não devemos nos guiar por ele. Pense no objetivo que o seu chatbot terá e nas funcionalidades que serão necessárias para atingí-lo. Se ele realmente precisar de Inteligência Artificial, então pare de ler e vá estudar matemática agora!

Publicado originalmente no Medium.